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Caso: Lulinha e a Friboi


Todos sabem da história divulgada em grande escala nas redes sociais de que o filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, seria sócio majoritário da JBS, dona da marca FRIBOI. Porém a história tem tido uma repercussão negativa, tanto para a família de Lula quanto para a empresa, o que vem gerando ações na justiça. Os desdobramentos de uma mentira publicada em jornais e revistas podem atingir níveis maiores que os planejados.

Em uma entrevista cedida À BBC Brasil, Wesley Batista, presidente do grupo, diz não conhecer Lulinha e relata que nunca teve contatos profissionais com ele. “A impressão que temos é que foram plantados em campanhas por adversários políticos (do PT)” relata o empresário e reclama da fofoca: “Meu pai começou esse negócio do nada, sessenta e poucos anos atrás. Quando (o presidente) Juscelino (Kubitschek) decidiu erguer Brasília, meu pai foi vender carne para as empresas que estavam construindo a cidade em uma precariedade danada” e continua dizendo: “Parece que no Brasil há uma dificuldade de se reconhecer que alguém pode crescer por ser competente ou por força do seu trabalho - e não por sorte ou porque é testa de ferro ou sócio de alguém.” O empresário ainda acrescenta: “Nunca vi o Lulinha na minha vida. Sei quem ele é por foto na internet.”

O caso tomou novas proporções quando Lulinha entrou com processo contra o prefeito de São Carlos, Paulo Altomani (PSDB-SP) por conta de uma publicação feita por ele no Facebook, no dia 15 de março, onde o político teria se referido à ligação do filho do ex-presidente com a empresa para incitar manifestações contra o PT. Vendo que o rapaz começou a tomar medidas mais enérgicas, algumas publicações começaram a desmentir o boato.

O caso chegou a respingar no ex-candidato à presidência da República pelo PV, Eduardo Jorge, por conta de um tuíte divulgado, falando de Lulinha e a FRIBOI, no entanto a página em questão era fake e o processo não seguiu avante.

Já os jornalistas da revista Veja, Robson Bonin e Adriano Coelin, que foram os criadores da reportagem de capa da edição de 25 de julho, também estão na lista dos processados. A matéria dizia que Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, estaria disposto a fazer um acordo de delação premiada com a força-tarefa da operação Lava Jato e despontar despesas de Lula e sua família pagas pela empreiteira. O empreiteiro negou as informações no mesmo dia da publicação.

Os efeitos de uma publicação caluniosa podem ser devastadores para com a vida do alvo destas, como no caso o Lulinha, como também para aqueles que, desavisados, com partilham as informações sem critério, pois podem acabar respondendo na justiça por repassarem informações falsas simplesmente por não terem checado a fonte.

O trabalho de um jornalista responsável deve ser ético ao ponto de não permitir que situações como estas sejam geradas, evitando situações embaraçosas tanto de um lado como de outro e constrangimentos desnecessários. Boatos não são notícia, a não ser para quem eles interessam, ou seja, para os especuladores.

Texto: Denizard Cabral

Caso: Diretas Já


Há mais de 30 anos atrás, no dia 25 de janeiro de 1984, aniversário de 430 anos da cidade de São Paulo, cerca de 300 mil pessoas se reuniram na praça da Sé com o objetivo de demandar as eleições diretas para presidente, até então o maior ato político contra a ditadura em 20 anos. Porém, a rede Globo, que já estava há tempos ignorando as diversas manifestações que ocorriam por todo o país, mandou ao ar uma reportagem afirmando que a manifestação era apenas uma das solenidades em homenagem ao aniversário da cidade.


Devido ao tamanho e importância que a lutas das Diretas Já alcançou, e ao perceber que sua omissão diante dos protestos estava prejudicando sua credibilidade, a rede Globo se viu obrigada a cobrir a campanha, ainda assim sem aceitar as acusações de que teria omitido as manifestações. Mesmo com a mudança de atitude da emissora, esse erro histórico correu pelo mundo e até hoje ela sofre com as criticas em relação a sua conduta.

Recentemente, durante a comemoração de 50 anos anos da emissora, a Globo assumiu na televisão pela primeira vez seu erro na cobertura das Diretas Já, apesar de já ter admitido sua culpa na internet.

Texto: Amanda Nogueira

Caso: 8 Bar Bistrô


João Pedro e Karllana Cordovil em manchete do Diário.



A busca, apreensão e prisão

Em junho de 2015, a Polícia Civil supostamente recebeu uma ligação anônima, que dizia haver tráfico de drogas no 8 Bar Bistrô, localizado no bairro do Reduto, em Belém, e muito frequentado por jovens. O casal proprietário do bar, João Pedro Paupério e Karllana Cordovil, foi preso na manhã da quinta-feira, 25 de junho. A Polícia disse ter apreendido 44 pastas-base de cocaína e uma quantia em dinheiro equivalente a R$ 1.240,90 que o casal teria obtivo através da venda de drogas. O único problema é que há vários fatores que comprovam o equívoco da Policia Civil naquela manhã.

O pedido de relaxamento de prisão

Os advogados que representavam Pedro Paupério e Karllana Cordovil entraram com pedido de relaxamento de prisão na sexta-feira, 26, para que os dois pudessem responder em liberdade ao inquérito policial sobre o suposto envolvimento no crime de tráfico de drogas. O advogado Alberto Pimentel ainda afirmou que Pedro e Karllana foram presos injustamente.

A perseguição

Karllana afirmou que policiais perseguiam o casal mesmo antes de o bar mudar de endereço. O advogado e amigo do casal, Stephano Houat, disse que o bar sofre essa perseguição por nunca ter pagado propina a policiais e que o flagrante pode ter sido forjado. "Aqui, em Belém, é comum a polícia passar pelos bares e restaurantes cobrando propina – que eles chamam de 'ajuda'. O bar nunca colaborou, nunca deu dinheiro algum porque sempre foi legalizado, com alvará", disse à uma entrevista feita pelo site Vice.

Os depoimentos

Os dois policiais que prenderam o casal proprietário do bar prestaram depoimento sobre a situação ocorrida. Eles teriam dito em seus depoimentos que prenderam o casal antes mesmo de encontrar a droga no local.

O mandato

O terceiro fator decisivo foi a falta de um mandado. Os policias entraram na residência, que fica em cima do bar, sem um mandado judicial. "O ingresso ilegal no domicílio contaminou todas as provas do crime, não sobrando nada lícito para formar a justa causa até mesmo da ação penal.", afirmou o juiz que analisou o pedido de relaxamento de prisão do casal e decidiu pela soltura dos dois. Segundo ele, o trancamento do inquérito policial se deu em decorrência da "ilegalidade da prisão e da operação policial".

A soltura do casal

O Tribunal de Justiça do Estado (TJE) informou, na tarde da segunda-feira, 29 de junho de 2015, que foi extinto o processo contra o casal Pedro Paupério e Karllana Cordovil. O juiz Flávio Sanchez Leão, da 1ª Vara Penal dos Inquéritos Policiais e Medidas Cautelares, considerou a prisão ilegal. O juiz determinou a devolução do dinheiro apreendido no dia do suposto flagrante. Ele alegou a operação falha e inválida.
"Concluímos, portanto, pela leitura do próprio depoimento dos policiais, que foram logo prendendo João assim que chegaram ao local, mesmo antes de iniciar a busca e antes de encontrar qualquer droga ilícita – pois assim os próprios policiais relataram que o detiveram. Atitude muito imprudente e que termina por se tornar suspeita, pois prenderam a pessoa antes de qualquer outra evidência da ocorrência do crime, o que poderia resultar em agravamento da situação dos policiais, caso não encontrado nenhum entorpecente, pois além de terem violado o domicílio da pessoa sem mandado judicial estariam efetivando uma prisão completamente ilegal e arbitrária", conclui o juiz. O casal foi solto na tarde na sexta-feira, 29 de junho de 2015.

A ética no jornalismo

Um jornalismo de qualidade deve seguir princípios morais e éticos internamente inseridos em cada profissional, visando o bem universal e respeitando os Direitos Humanos. A boa ação é o que produz bons resultados. Um jornalista deve ir contra hábitos individualistas, que buscam interesses próprios, para se tornar um cidadão cooperante com o meio social habitado. Para isso as regras e normas são necessárias: com o intuito de haver o cumprimento de condutas morais entre os indivíduos. Na profissão de jornalista, deve-se ter em mente a constante preocupação com a relação desenvolvida com o público, sempre buscando reportar matérias e notícias verdadeiras e que estejam de acordo com o conceito de ética, nunca deixando de lado os interesses sociais.
Na matéria do Diário do Pará, divulgada no site na época em que o casal estava sendo apenas acusado por tráfico de drogas, o jornal publicou a notícia como se os proprietários do bar já estivessem condenados pela Justiça. Mas, o fato é que não havia provas contra o casal, a não ser a droga supostamente encontrada pelos dois policiais, o que, mais tarde, ficaria claro que foi implantada e que toda a situação foi forjada.
Oportunismo é quando nos aproveitamos de um fato visando a conquista de interesses particulares, reproduzindo notícias errôneas que expressam parcialidade. O trabalho de um jornalista é informar e transmitir mensagens coerentes para o público, por isso, a ética se faz necessária em todas as áreas profissionais.

Texto: Elisa Lara Vaz

Caso: Bar Bodega



O livro-reportagem escrito pelo jornalista Carlos Dorneles, em que conta detalhadamente como o crime foi amplificado pela imprensa e faz um levantamento minucioso sobre o caso.







Em 1996, um crime despertou a atenção da imprensa brasileira: cinco assaltantes entraram em um bar às duas da manhã, renderam funcionários, assaltaram clientes e, como se não bastasse, partiram para a violência gratuita. Ao tentar tirar o relógio do pulso de um cliente, um dos assaltantes se assustou e atirou no próprio braço. Sem saber o que acontecia, o dentista José Renato Taha entrou no bar, foi rendido, agredido e morto com um tiro nas costas ao tentar se levantar. Durante a fuga, um dos assaltantes deu um tiro aleatório para o bar, que atingiu e matou a estudante Adriana Ciola.

A imprensa:

O caso chamou a atenção da imprensa por cinco motivos: a brutalidade dos assaltantes; a localização do bar em um bairro da classe média; as vítimas pertenciam à uma boa classe social; o bar pertencer a atores conhecidos da Globo, sendo estes Luis Gustavo, Tato Gabus Mendes e Cássio Gabus Mendes; e o evento ter ocorrido durante uma acirrada disputa eleitoral para a prefeitura de São Paulo. 
Na época, devido à pressão da população, da família e da imprensa, a polícia acusou o menor Cléverson, 17 anos, de ser chefe da quadrilha que matou o dentista e a estudante e, após ser torturado, acabou confessando o crime e acusou colegas de terem participado. No entanto, todos eram inocentes e Cléverson não sabia nem a localização do bar. 
A cada nova notícia, a imprensa ficava eufórica por mais justificativas para apresentar à população, enchendo os jornais com manchetes sensacionalistas e a televisão com matérias exageradas. Os jornais, não satisfeitos com os erros cometidos dois anos antes no caso Escola Base, cometeram mais um. A imprensa foi culpada em acusar erroneamente e sem provas os nove jovens inocentes que, a partir daí, tiveram suas vidas totalmente prejudicadas.
O deslize da imprensa poderia ter sido evitado se houvesse uma apuração mais delicada e aprofundada do caso, além, é claro, da imparcialidade, pois muitos jornalistas tomaram para si uma luta contra a violência da época e juntaram-se ao movimento “Reage São Paulo”, criado pela classe média paulistana que pedia, entre muitas coisas, a redução da maioridade penal.

Desfecho:

Em novembro do mesmo ano, a polícia conseguiu prender dois dos verdadeiros culpados: Silvanildo Oliveira da Silva, 36 anos, e Sandro Márcio Olimpio, 34 anos. Os outros foram presos nas semanas seguintes e as penas variaram entre 23 e 48 anos de reclusão. O bar Bodega é mais um exemplo de abusos da imprensa, que não se preocupou em contar o desfecho verdadeiro. Pouco antes de completar 20 anos, Cléverson foi assassinado, a polícia não se preocupou em investigar o caso e a imprensa nunca se retratou ou publicou notícias sobre o destino dos inocentes que foram acusados.  

Texto: Gabriela Rubia Bastos